Publicado por: Duarte | 6 Janeiro, 2010

Desmistificar a Dívida Externa

A Comunicação Social tem feito eco de afirmações de opinadores e comentadores, assim como de dirigentes partidários, sobre a gravidade do “endividamento” do País e das famílias e, particularmente grave, da Dívida Externa de Portugal.

Os comentários são vagos mas, com alguns números sonantes, procuram transmitir uma imagem de tal gravidade que são muitos os portugueses que já vêm o País na bancarrota.

Há 8 anos o alarme social sobre o tema economia, também foi utilizado, mas em torno do “défice excessivo das contas públicas, que serviu de base para a campanha eleitoral de Durão Barroso.

A mistificação em torno desta matéria levou o então Presidente Jorge Sampaio, a alertar de que “Há mais vida para além do défice” das contas públicas.

Quanto à campanha actual de que o País está endividado, importa desmistificar esta afirmação.

Sem pôr em causa os valores do “endividamento”, é importante que se refira a outra face desta realidade, que são os activos (imóveis e equipamentos) das famílias, das empresas e do Estado (central, regional e local).

Para dar um exemplo: Quando se diz que uma família está endividada com 150 mil euros que pediu de crédito ao banco, para a compra de uma casa, também se devia dizer que essa família passou a ter um activo no valor de 200 mil euros, que é o valor da casa ou seja, a família não está endividada pois o activo é superior ao passivo, tem é uma dívida ao banco.

Fácil é de ver que se esta família, para se livrar desta dívida, entregar a casa ao Banco, põem termo à mesma. Não o faz porque tinha que alugar uma casa e pagar uma renda de valor superior ao que paga, mensalmente ao Banco.

Esta realidade que acabo de referir é aplicável às empresas, que têm dívidas à Banca mas é incorrecto que se diga estarem endividadas quando os seus activos (património e outros activos financeiros) são superiores à referida dívida.

O mesmo ocorre com o governo e as autarquias, que tendo dívidas, têm em contrapartida vasto património e equipamentos (hospitais, escolas, estradas, pontes, vias ferroviárias, museus, habitação social, infantários, lares para idosos, parques, quartéis, esquadras, centros de saúde, etc..) que são, no seu conjunto, determinantes para a rentabilidade e produtividade de toda a sociedade.

Este “endividamento” é também determinante nas empresas, para a compra de novas máquina ou equipamentos, para aumentar a sua competitividade e são geradores de valor acrescentado que, por sua vez, permite pagar os empréstimos contraídos e assegurar o seu futuro empresarial.

É importante que se tenha a capacidade de desconfiar das conversas sobre o “endividamento público”, quando nada se refere da outra face da moeda que, neste caso são os activos, das famílias, das empresas ou do Estado.

Mas outra questão começa também a ser empolada, que é a “elevada Dívida Externa de Portugal”, muitas vezes acompanhada da afirmação irresponsável de que cada português já deve 18.283 euros ao estrangeiro.

Também aqui é importante que esta afirmação seja desmistificada.

Segundo os dados do Banco de Portugal a Dívida Externa de Portugal é de 108,6% do PIB (Produto Interno Bruto ou seja, o valor da produção de bens e serviços do País, no ano em causa), mas também é importante que se destaque que a generalidade desta “dívida externa”, foi contraída para investimentos e corresponde a activos (habitação, máquinas, e equipamentos públicos) que são determinantes para gerar riqueza (valor acrescentado) e bem estar dos cidadãos na saúde, educação, segurança, mobilidade, etc.

Mas é também importante que se deduza os activos financeiros, tal como o refere o Banco de Portugal, no seu Boletim de Setembro de 2009, no quadro A.3.2, pelo que a Dívida Externa Líquida é de -134.327 mil milhões em resultado da dedução dos activos financeiros e não os 182.833 mil milhões de euros que frequentemente se refere.

No entanto é interessante que se destaque quem, dentro do País, é responsável por esta Dívida Externa, pois o que alguns pretendem fazer crer é que esta dívida é do governo.

O referido Boletim do BP descrimina esta Dívida Externa, sem a dedução dos activos financeiros, da seguinte maneira.

Entidades Montante em € % do PIB
Autoridades Monetárias (B. P.) +  5.540 mil milhõ    + 2,4 %
Administrações Públicas   – 86.281        “     – 52,0 %
Outras Inst. Financeiras (Bancos, Seg)   – 76.835        “     – 47.0 %
Outros Sect. Residentes (empresas)   – 19.717        “     – 12,0 %
Total – 177.293       “ – 108,6 %

 

Ou seja, como se vê 59% da Dívida Externa é da responsabilidade dos Bancos e Seguros (47%+12%) e 49,6% do Estado (A. Central, Regional e Local), 52,0% – 2,4 %.

É deste modo importante que acabe a mistificação de que cada português deve 18.283 € ao estrangeiro, pois mais de metade da Dívida Externa é de entidades privadas.

Mas também aqui nada justifica o clima de alarmismo, dado que os activos das empresas e bancos ultrapassam largamente esses valores.

Concluindo, era importante que o actual Presidente da República viesse dizer, tal como o Presidente Jorge Sampaio o fez, “há mais vida para além da Dívida Externa”, pois perante a actual crise financeira mundial, o investimento público é determinante para arrancar com a economia, criar empregos e apoiar socialmente os mais atingidos.

E não se venha com a demagogia de que estamos a deixar dívidas aos nossos filhos e netos, porque sempre assim será.

O grave era se não construíssemos hoje os equipamentos que serão determinantes para os jovens do futuro crescerem com qualidade, contribuindo também para a sua amortização, tal como nós estamos a pagar as dívidas dos equipamentos construídos no passado.


Respostas

  1. Sendo total o descrédito da voz do actual governo PS, a desconfiança do cidadão comum — como eu — é exactamente a mesma que esse cidadão tinha quando outro governo pontificava, parceiro nas mesmas políticas, mas do PSD.
    Talvez só um governo de esquerda pudesse minimizar os efeitos perversos da identificação mais que manifesta daqueles governos com a corrupção e o capital (vide Dias Loureiro — o apresentador do livro “O menino de oiro”, ridícula hagiografia do “inginheiro Çócrates” — ou vide Jorges Coellhos & Cª).
    Talvez!!…

  2. Artigo consistente e com uma abordagem que me parece substantiva e cientifica.
    E oportuna, atente-se aas declarações recentes do banqueiro Fernando Ulrich sobre, exactamente, a divida externa!
    É curioso que, certos cientistas, e académicos, quando saiem da sua esfera de competência – só dizem disparates.
    Sem querer comentar o “comentário do leitor Paulo Almeida, não deixarei de dizer/perguntar: – O que é que tem a ver o cu com as calças?
    O tema é divida externa.
    A que vêm, para o debate, o Dias Loureiro, ou o Jorge Coelho, ou o eng.º Sócrates e do modo sugerido pelo leitor.
    Nestas coisas, como nas outras todas da vida, da nossa e da dos outros – a ética e a moral vigente são de rigor.
    O preconceito é, sempre foi, a arma dos fracos e dos que não têm argumentos.
    Se estivessemos a falar de Mendelshom, de Bernstein, de Mahler, de Perleman, de Rostropovich, dos músicos, a que viria ao caso a sua condição de judeus?!
    Abraço,
    José Albergaria

  3. Gostei de ler o artigo sobre a divida externa e alguns aspectos que tenta desmistificar, até porque me retira alguma angústia. Eu associo o aumento da DE ( cerca de 8% em 1996 e 100 % actualmente ? )à nossa adesão ao Euro em 1998 ( creio ).Tenho para mim que a descida brutal dos juros desencadeou um autentico “regabofe” nos endividamento das familias, empresas e Estado. Bem me lembro na altura me interrogar a mim próprio se o nosso país tinha enriquecido por toque de mágica, pois as conversas à minha volta denotavam alguma loucura no que toca a compra de casas, carros e tudo o mais com dinheiro emprestado. Infelizmente as consequencia estão à vista. Deixámos de ter a farramenta monetária que actuava de forma automatica e agora só pela via orçamental o que é doloroso para os governos e para todos nós.Quanto à questão que o artigo refere e me parce importante – as contrapartidas em activos que o endividamento sempre terá e que tenderão a gerar riqueza- resta saber se esse investimento gera de facto riqueza. Será a diferença ,por exemplo entre divida para construir uma central hidroelectrica ou um estadio de football ou um centro comercial . Penso que essa selectividade fará a diferença e receio , infelizmento, que no nosso caso os activos adquiridos não produzam o retorno suficiente. Finalmente assusta-me o peso que a díviada possa ter no futuro quando os juros começarem a subir ( note-se que as taxas de juro terão batido no fundo e a partir de agora será a subir )

  4. Ate que enfim uma voz de optimismo perante tanta aldrabice que se tem dito.

  5. […] Desmistificar a Dívida Externa Janeiro, 2010 4 comentários 5 […]

  6. penso que em teoria isto está correcto , só que na realidade já não será a mesma coisa pois para o caso da compra de uma casa por 150.000€ e a casa valer 200.000€ a unica coisa correcta é o valor da divida pois a casa pode desvalorizar como é a situação actual e ai o banco não quer a casa mas sim os 150.000€ + os juros.
    No caso de uma empresa comprar maquinas para produzir riqueza a unica certeza que o empresário fica é o valor da divida, quanto á produção de riqueza , essa pode mudar por varios factores ,chineses,indianos,crise etc.

  7. penso ainda que os nossos credores tal como banco que é dono da minha casa não querem os meus bens pessoais mas sim o fruto do meu trabalho .

  8. CAROS LEITORES.

    como podemos ficar descanssados com tanto erro politico,
    quebra de sigilo ,contas mal pagas e investimentos ,que so se encontra em papel.com assinatura de sabese la de quem .
    este pais esta cada vez pior ,sem contar com a saida de varios pessoas as mias citadas,
    portugueses ,ucranianos ,romenos ,maldavios ,angola,cabo verde e brasil.
    mas por falar em ultimo o brasil,é um dos paises que esta em alta ,tanto em economia e no desenvolvimento ,ainda falta muito para atingir o patamar de 1º mundo.o brasil tem hoje em divida com outros paises 0,mas tem um lucro que ronda os 351 bilhioes de u$ dolares ,enquanto portugal esta com uma divida a rondar os 177 mil milhoes ,ainda mais agora ,com o passar do tempo o brasil pretende pagar a divida de portugal ,e depois de pagas as contas é capaz de que os brasileiros que vivem ca em portugal sejam mais respeitados por vcs ,que por ca vivem ,pois a ignorancia e arrogancia só acaba depois que a divida acaba ,
    sejam pra todos ,uma liçao de que todods precisam de todos .um abarço irmãos.

  9. sao uns mamoes,pois os intlectuais destridos e os analfabetos naturais deixaram entrar o meliantes em casa ,agora vao pagar a fatura,tal e qual como tera de ser paga,com greves sem greves ,a partir as propriedades,das financas etc..irao pagar ainda mais

  10. […] amortização, tal como nós estamos a pagar as dívidas dos equipamentos construídos no passado. Artigo na integra, importante perceber o que existe por trás das demagogias. Muito interessante ler o […]

  11. Boas
    Obrigado pelos esclarecimentos, mas parece que nem sempre a entrega do imóvel resolve a dívida. Pelo menos em muitos paises, como espanha e grécia…
    Mas os dados da dívida s~~ao fulcrais, porque fiquei a saber quem deve o quê. Em espanha dizem isto:

    Há dados equivalentes para Portugal?
    Abraço e obrigado
    Ricardo

  12. … erro no email…


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